Opinião de um Jornalista sobre O Livro dos Espíritos
Post date: Apr 1, 2011 3:01:12 PM
"A imprensa da Europa tem se ocupado bastante com esta obra. Depois de a ter lido, compreende-se o porquê, seja qual for a opinião que se tenha da colaboração das inteligências ultramundanas, que o autor diz ter obtido. Com efeito, suprimindo algumas páginas de introdução que expõem as vias e os meios da dita colaboração – a parte contestável para os profanos – resta um livro de alta filosofia, de uma moral eminentemente pura e, principalmente, de um efeito muito consolador para a alma humana, assediada entre os sofrimentos do presente e o medo do futuro. Assim, mais de um leitor deve ter dito a si mesmo, ao chegar à ultima página: Não sei se tudo isto é verdade, mas bem que gostaria que fosse! (...) Assim, sem contestar nem atestar a autenticidade das assinaturas póstumas de Platão, Sócrates, Santo Agostinho, Júlio César, Carlos Magno, São Luís, Napoleão, etc., que se acham na parte inferior de vários parágrafos do livro do Sr. Allan Kardec, concluímos que se esses grandes homens voltassem ao mundo para nos dar explicações sobre os problemas mais interessantes da Humanidade, não se exprimiriam com mais lucidez, com um senso moral mais profundo, mais delicado, com maior elevação de vistas e de linguagem do que o fazem na excêntrica obra, da qual tentaremos dar uma idéia. São coisas que não se lêem sem emoção e não são daquelas que logo se esquece depois de as haver lido. Neste sentido, O Livro dos Espíritos não passará, como tantos outros, em meio à indiferença do século: terá ardentes detratores, zombadores impiedosos, mas não nos surpreenderíamos se, em compensação, também tivesse partidários sinceros e entusiastas.
"Não podendo, em consciência, por falta de uma verificação prévia, colocar-nos entre uns e outros, ficamos no humilde ofício de relator e dizemos: Lede esta obra, pois ela sai completamente dos atalhos repisados da banalidade contemporânea. Se não estiverdes seduzido, subjugado, talvez vos irriteis, mas, com toda a certeza, nem ficareis frio nem indiferente.
"Recomendamos, sobretudo, a passagem relativa à morte. Eis um tema sobre o qual ninguém gosta de fixar a atenção, mesmo aquele que se julga espírito forte e intrépido. Pois bem! depois de ter lido e meditado, a gente se sente muito admirada por não mais encontrar essa crise suprema tão aterradora; sobre o assunto, chega-se ao ponto mais desejável, aquele em que não tememos nem desejamos a morte. Outros problemas de não menor importância têm soluções igualmente consoladoras e inesperadas. Em suma, o tempo que se consagra à leitura desse livro será bem empregado para a curiosidade intelectual e não será perdido para o melhoramento moral."
(publicado originalmente no Akhbar, jornal de Argel, de 15 de outubro de 1861 e assinado pelo jornalista Ariel e reproduzido por Allan Kardec na Revista Espirita, novembro de 1861, Ed. FEB p. 470 a 473)